As multidões estão sujeitas ao que se chama de "efeito manada" (comparando a comportamentos de outros mamíferos, tal como um estouro de boiada...): em situações de pânico ou comoção, tendem a reagir em ímpeto, num mesmo sentido, sem autocrítica ou raciocínio de parte de cada indivíduo, perdendo o senso, arrasando tudo. Acontece em exemplos como o teatro lotado diante do alarme de incêndio, as torcidas em estádios, um coletivo impactado por algum crime chocante e casos semelhantes.
A novidade neste tema é o papel das chamadas redes sociais. Com capacidade de impactar instantaneamente e provocar a eclosão de emoções descontroladas, elas são campos pródigos para o referido estouro da boiada e o produzem quase que diariamente diante de situações e assuntos os mais diversos.
Quem navega pelas várias possibilidades de relações e intercâmbios comunitários na internet encontra a toda hora reações coletivas exacerbadas, sem reflexão, apenas indo na onda e causando estragos. Em situações mais graves aconteceram aberrações, que nem o linchamento de pessoa que se pareceria com a descrição disseminada de suposta autora de crimes horrendos.
As ferramentas já disponíveis e outras sendo geradas nos permitirão construir no futuro sociedades organizadas na forma de democracia direta, reproduzindo com nova dimensão a "ágora" dos gregos: os cidadãos diretamente decidirem as questões legislativas e de gestão coletiva, manifestando diariamente suas opinião e vontade por meio de mecanismos de rede social. Os problemas técnicos para isto acontecer já se prenunciam solucionáveis.
Resta a questão de fundo e que apaixona qualquer debate a respeito: como prevenir para que as reações coletivas temperamentais e exacerbadas, os ditos "efeitos de manadas", não contaminem e comprometam o processo transformando o que seria um formidável mundo novo numa tragédia?!
A democracia direta tão sonhada pode sucumbir à perda de capacidade de discernimento das multidões exaltadas e desacorçoadas. Sem redes sociais, foi assim no passado em momentos nos quais a vontade coletiva viciada pela circunstância da emoção foi utilizada para decisões equivocadas. Tem até o exemplo bíblico do "julgamento" de Jesus no qual Pilatos pergunta à multidão a quem deveria libertar. Mas, passa certamente por plebiscitos realizados em momentos de forte ilusão coletiva para legitimar os mais cruéis regimes ditatoriais e medidas autoritárias.
Por isso, também, ruas e multidões não devem ser tribunais penais e, quando julgaram, cometeram os mais graves equívocos e causaram tragédias. O devido processo legal filtra e previne para que a emoção coletiva não julgue.
Construir uma "democracia direta" no futuro necessita que o gênio humano conceba mecanismos que sejam vacinas contra os comportamentos de manada e garantam a capacidade de discernir e pensar de cada indivíduo para então decidir coletivamente.